terça-feira, 5 de maio de 2009

FELIZ NATAL


Não sei se conceituar um filme “Cult” é tão simples como identificar um. Acho que de uma maneira geral, um filme “Cult” é aquele em que a função entretenimento é deixada de lado em face de outras funções tais como a propagação de uma ou mais idéias ou conceitos, experimentalismos e catarses, desempenhos e por aí vai....Muitas vezes os próprios produtores, diretores, atores, e demais envolvidos na confecção do produto, assumem uma atitude “Cult”, ou seja, de deixar para lá o entretenimento e o próprio público e se voltar para uma obra “autoral” demais que pode passar por incompreensível ou de difícil compreensão e quase sempre chata. Porém, na maior parte das vezes os envolvidos na confecção do produto estão preocupados com o entretenimento e o público, mas não querem ou não aceitam fazer algo dentro dos rígidos parâmetros do entretenimento atual, que despreza qualquer forma de qualidade ou reflexão. Estes produtos são taxados de “Cult” de fora prá dentro, uma vez que são identificados como dissonantes da tendência do mercado e da formação cultural da sociedade de consumo em que vivemos, mas não correspondem a um desejo de ser “Cult”.

De uma maneira geral os filmes “Cult” tem temáticas reflexivas, sendo que as motivações subjetivas e comportamentais são um “prato cheio” que provoca ânsias de vômito naqueles que não querem pensar e que acham que entretenimento é sinônimo de idiotice. Mas o principal no filme “Cult” e que muitas das vezes afasta muito mais o público do que as temáticas é o tratamento formal, que sempre deseja fazer algo diferente do padrão estabelecido e às vezes acaba construindo uma linguagem muito distante daquela linguagem “idiota” que nos ensinam diariamente.

Devo todas estas digressões “Cult” ao filme “Feliz Natal”(2008) do estreante na direção de longas, Selton Mello, que além de brilhante ator, tem a excelente qualidade de não ter medo de ser “Cult” ou de ser taxado de “Cult”, talvez consciente de que isto representa uma atitude contrária as padrões quase que débeis mentais, estabelecidos pela indústria cultural e seus donos. A consciência ou não desta atitude pode gerar uma “atitude Cult” que à vezes significa um experimentalismo formal excessivo, uma trilha sonora chata e autoral demais, mas quase que sempre com bom resultado no tal. O filme em si, é um bom roteiro e uma boa direção, ajudados pelo desempenho sensacional dos atores que transforma algumas cenas em brilhantes. Todos os principais atores estão muito bem (Leonardo Medeiros, Graziela Morato, Paulo Guarnieri, Darlene Glória, Lúcio Mauro). A cena destaque é o almoço do enterro dos ossos.Há um certo “moralismo” talvez extremado na cena do garoto tomando o remédio da avó, mas nada que não se possa aceitar. Se o primeiro produto é bom assim, a tendência que esperamos e que mais do que isto precisamos é que cada filme seja melhor ainda, e que a longa distância entre o gosto médio do público e a criatividade do autor seja diminuída cada vez mais, por elevado esforço de ambas as partes.


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