terça-feira, 28 de outubro de 2008

THE SOUL OF A MAN

Este é um “post” especial, em que falo de um filme, um documentário sobre Blues e ao mesmo tempo presto uma pré-homenagem a quem espero seja o futuro presidente dos Estados Unidos da América na semana que vem. Ao mesmo tempo falo de mim e acho que de muita gente, que através de uma forma musical e de toda uma cultura que a acompanhava (genericamente chamada aqui do Rock, mas que desde já envolve o Blues, o Jazz e todas as múltiplas variações e relações) pode experimentar desde os anos 60 da década passada, uma forma de viver mais livre, menos preconceituosa, e com mais foco no prazer.

O filme é um documentário de 2003, do Win Wenders, chamado “The Soul of a Man” que faz parte do projeto”Blues” produzido entre outros por Martins Scorsese. Falar do Martin Scorsese e seu gosto pela música (além de máfia e dos ítalo-americanos, é claro) é lembrar o recente “Shine a Light” em que o diretor filma os Rolling Stones (ainda não vi).Falar do Win Wenders, um diretor alemão, cujo trabalho de arqueólogo da cultura, ou historiador da arte, está bem expresso no seu “Buena Vista Social Club”, e que sempre foi o cineasta alemão mais próximo da cultura norte-americana.

Grande parte dos filmes do projeto, e o de Wenders não foge à regra, fala em algum momento, sobre o período mágico em que a música de origem negra norte-americana chega ao velho mundo (a Europa) e influencia toda uma geração, que a reprocessa e a torna sucesso, inclusive, nos próprios Estados Unidos, onde ela já não empolgava tanto. O que esta música de origem negra representou para esta juventude na Europa ( e para nosotros, é claro), é algo que os filmes tentam mostrar, mas que eu acho que é muito grande para se colocar em tão poucos papéis e tão poucas linhas que ainda existem sobre o assunto.Lembro ainda do bom filme “The Commitments”(1991) do Alan Parker, que também é sobre isto.

O documentário parte de três grandes músicos do Blues Norte-Americano (Blind Wllie Jonhson, Skip James e J.B.Lenoir) que em épocas diferentes compuseram grandes sucessos, mas nunca tiveram nenhum sucesso financeiro, e mostra aspectos da vida destes músicos, contrapondo com interpretações mais recentes. Acho que o mais simbólico do filme é o trecho que mostra que a gravação de “I’m so glad” de Skip James pelo Cream no final da década de 60 foi que ajudou a pagar o tratamento do compositor e sua sobre-vida por mais três anos.

Acho que uma grande dificuldade para todos nós que gostamos desta música e desta arte, é conciliar todo o romantismo que há nelas, os bons sentimentos, “good vibrations”, o lado dionisíaco, com uma realidade bastante hostil, onde ainda prevalecem os preconceitos, a violência, e toda uma gama enorme de defeitos humanos. Não são poucos de nós que tem enormes dificuldades (acho que todos) em lidar com este choque, e muitos sacrificam justamente o seu lado romântico e sucumbem aos clamores do real. Uma área onde este embate é mais difícil é na política. Saber conciliar sonhos e ideais com um meio totalmente hostil é muito difícil, e a tentação não apenas de sucumbir aos meios tradicionais e abandonar os sonhos,mas principalmente de sacrificar o possível pelo ideal é muito forte.

Voltando ao Blues, estou impressionado com o Obama, com a sua capacidade de se colocar em um país onde o racismo é muito forte, e traduzir ao mesmo tempo os sonhos e ideais de justiça social e o seu pé-no-chão de lidar com o complexo e falho sistema eleitoral norte-americano. Há grande chances de vitória do mesmo, nas eleições da semana que vem, e isto é muito, muito emocionante. Se ele vencer, será pela sua capacidade de traduzir esperanças de mudança, o que motivou um grande número de pessoas a participar do processo eleitoral, que anteriormente nunca serviu para muita coisa para estas pessoas, e posteriormente a sua escolha como candidato, a sua caminhada para uma posição mais conciliadora, sem posições radicais que afetassem a sua capacidade de ser eleito, ou até de ficar vivo. Muitas razões ele teria para fazer este discurso mais forte, mas ele quer ganhar a eleição, e não se tornar mais um candidato, ou mesmo um mártir.

A sua vitória na semana que vem, se confirmada, será um sopro emocionante de vida em nossos corações, motivo de muita festa, pois é a vitória do Blues, da alma, do Soul, do sentimento. Não interessa se ele não vai conseguir fazer todas as mudanças que muitos esperam, pois o que interessa são as mudanças que ele vai conseguir fazer e o que a sua candidatura já fez.

E nós, continuaremos a viver esta realidade, sonhando sempre, com um pé em cada lado do abismo, nem tanto no ar, nem tanto na terra, mas embalados por esta arte maravilhosa, que é a música, o cinema, o som, a imagem, e o trabalho do Homem.

domingo, 26 de outubro de 2008

O ACOMPANHANTE

O filme “O Acompanhante” (“The Walker”) é uma brilhante fita de 2007, dirigida e escrita por Paul Schrader. Um bom filme começa por um bom roteiro, e esta é uma arte de Paul Schrader, que antes de ser diretor é o brilhante roteirista de Taxi Driver e O Touro Indomável, ambos sucessos dirigidos por Martin Scorcese. O roteiro de “O Acompanhante” é fabuloso- um policial que mistura comédia de costumes, drama e temas que vão desde o homossexualismo, até a política norte-americana. Só por isso já seria bom, mas não é só isso- há a atuação exuberante do Woody Harrelson, que reedita a atuação memorável de “O Povo contra Larry Flint” ( acho que é até melhor ! ) e conta ainda com um time de mestras femininas do porte de Lauren Baccal, Kristin Sctt Thomas e Lilly Tomin. Mas ainda tem mais, fascinantes e corretos Ned Beatty ( veterano ator que sempre está bem) e Moritz Bleibtreu, um ator alemão, que não me lembro de ter visto e impressiona. Em resumo, um excelente filme, que até então passou meio desapercebido.


quarta-feira, 22 de outubro de 2008

PARADISE NOW


“Paradise Now” é um filme de 2005, dirigido pelo palestino Hany Abu-Assad, que foi indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro, e realmente é um filme muito bom, que eu revi por estes dias. Trata-se da história de dois amigos, escalados para um atentado como homens-bomba. O filme surpreende a todos aqueles, como eu, que tem uma visão simplista de que estas pessoas são radicais islâmicos que de uma forma irracional se suicidam por razões religiosas. O filme mostra que é bem mais do que isto, e aliás o filme acaba mostrando bem mais do que isto, é um prazer conhecer o que é a realidade da Palestina e logo ali,de Israel. Uma das cenas mais deslumbrantes é quando eles estão chegando em Israel para o atentado. A diferença é significativa! Dizer que o filme é bem filmado é mais do que simples redundância e os atores e atrizes são muito bons, em resumo, distrai, informa e faz pensar, o que define a meu ver um excelente filme!


segunda-feira, 20 de outubro de 2008

AGOSTO NEGRO

O filme “Agosto Negro” (Black August) de 2007, conta a história de George Jackson, escritor negro, que de dentro do presídio participa da luta dos “Panteras Negras” e acaba morto após liderar um motim. O filme é um pouco lento demais, mas tem acertos. Primeiro, o diálogo que faz com imagens da época, acentua o seu caráter informativo, que é fundamental em se tratando de algo que é muito pouco divulgado. Segundo, o desempenho do Gary Dourdan, que é basicamente um ator de seriados de TV que eu não vejo, mas parece ter muita fama como integrante do C.S.I. (seja lá o que isso for). O cara trabalha muito bem, construindo com o roteiro a essência do filme que não é sobre presídio e nem mesmo sobre como ele escreve o livro, mas sobre como ele se relaciona subjetivamente com o racismo. Neste período que esperamos seja pré-Obama, a luta contra o racismo é algo que deve ser bem informado, e o filme faz este papel de forma interessante. Não chega a ser um grande filme, mas dá bem pro gasto !



domingo, 19 de outubro de 2008

OS AMADORES

Há um gênero de cinema que é muito difícil, que é a comédia. Temos muitos bons atores e programas de TV de comédia, mas quando vai para a "telona" fica muito ruim. O problema é que as vezes queremos assistir uma comédia e temos poucas opções. No cenário internacional também não é diferente.As sitcoms quando se tornam filmes são muito ruins e muitas das vezes o chamado besteirol se tornou imbecilzol. O filme "os amadores" é uma produção nacional totalmente globalizada , de 2006, cuja direção é de José Alvarenga Junior, cuja especialidade é justamente estas comédias de situação do tipo " os normais", etc... O filme não é ruim, e tem o diferencial em três aspectos, o bom desempenho dos atores/atrizes, a trilha sonora e um roteiro razoável, que depena homens em crise aos quarenta e poucos. O único grande senão do filme, que aliás é comum em filmes brasileiros, é a ausencia de um final, talvez porque o pensamento seja mesmo no formato "vai continuando". O filme acaba de repente sem sentido. Os personagens centrais são masculinos, o Cássio Gabus ( excelente como sempre), o Ótávio Muller, o Matheus Natchergale e o Murilo Benício ( melhor do que o habitual). As coadjuvantes são ótimas, especialmente a Fernanda Torres ( que é boa para comédia) e até a Flávia Alessandra. Mas o grande lance do filme é o National Kid, não há dúvida alguma. Dá prá ver em um dia que você quer uma diversão sem profundidade alguma.....

domingo, 12 de outubro de 2008

JUNO

O filme canadense “Juno” de 2007, dirigido por Jason Reitman, virou uma espécie de coqueluche cinematográfica, após ter ganho o Oscar de melhor roteiro original com Diablo Cody, que é pseudônimo de Brook Busey, uma bela mulher, que escreveu um livro contando suas aventuras como stripper, e hoje fez fama como roteirista. Algo assim (sem entrar no mérito da qualidade da obra) como uma espécie de “Bruna Surfistinha”. Com relação ao filme, a temática é a meu ver adolescente, e sinceramente não vi tão grandes qualidades assim. A atriz Ellen Page é o destaque no papel-título, mas os demais são meio fraquinhos. O roteiro é realmente criativo, mas achei que abordagem é tipo meio superficial. Talvez ainda a ótica canadense sobre o problema seja bem distinta da brasileira e daí o estranhamento, mas para mim, nada empolgante.

quinta-feira, 9 de outubro de 2008

QUANTO VALE OU É POR QUILO

“Quanto vale ou é por quilo?” É um filme nacional de 2005, dirigido por Sergio Bianchi, que tem alguns aspectos positivos: Tem ótimos atores e atrizes em papéis interessantes (talvez com algum destaque maior para o Herson Capri, mas com ótimas participações de Ariclê Perez,Ana Lucia Torre, Lazaro Ramos e Silvio Guindane – Caco Ciocler está ruim). Tem a ótima “sacação” de fazer o paralelo das encenações de documentos históricos da escravidão com cenas contemporâneas de privatização da assistência social ( e do próprio Estado) e tem uma boa direção que não deixa ninguém morrer de sono e tédio, mas esbarra na aposta intencional de tratar com clichês e caricaturas, o que acaba tirando um pouco da seriedade ( que é pretensão) do filme. No final fica uma crítica estereotipada, que atinge inclusive o lado cinematográfico do filme, e como não descamba para o humor, assume integralmente o papel de libelo-acusatório, no qual a arte fica instrumental demais.



sexta-feira, 3 de outubro de 2008

O ANO EM QUE NOSSOS PAIS SAIRAM DE FÉRIAS

Para gostar um pouco do filme “O Ano em que nossos pais saíram de férias” (2006) dirigido pelo Cao Hamburger, foi preciso que eu fizesse um mergulho no meu passado, nos longínquos anos 70 e mais precisamente em 1970. É um filme fiel, ao que me recordo, ninguém falava de política, a maioria só se preocupava com futebol, e com o Brasil na copa. O filme procura retratar o período pelos olhos de um garoto, no bairro paulista do Bom Retiro. Aí o filme começa a não me dizer muita coisa, mas há um foco bastante evidente com a cultura judaica, e a figura do garoto como um Moisés. Há também uma evidente intenção de mostrar uma faceta multiculturalista do bairro, onde não falta um personagem negro. Não sei, soa meio assim, assim, e não chega a emocionar totalmente o sofrimento dos personagens ( é engraçado o filme passa um pouco frieza em termos de sentimento, embora trate de questões de sofrimento).. Os garotos estão bem e o outro único personagem que chama a atenção é o Schlomo, vivido por Germano Haint. Os demais são participações especiais. É um filme morno, eu acho.



quarta-feira, 1 de outubro de 2008

EU SOU POVO

"Eu sou Povo" é um bom filme sobre o grande compositor Candeia e sobre o G.R.A.N.E. S. Quilombo, criada por ele na década de 70. Garimpei da enorme oferta de títulos do excelente Festival do Rio. É um filme de Bruno Bacellar, Luis Fernando Couto e Regina Rocha muito bem feito, que tem uma primeira parte focada no compositor, em que metade da tela vai colhendo entrevista e a outra metade vai olhando de dentro prá fora do trem da central, criando um efeito interessante. Confesso que fica mais fácil de gostar quando se já é um admirador do personagem como eu, mas como diziam no passado, quem não gosta não é bom da cabeça...A poesia é forte e emocionante. Uma segunda parte mais focada na Escola criada pela fera, traz informações importantes e pouco divulgadas pela mídia (é claro) inclusive sobre a sua resistência. até hoje, nas mãos do ator Jorge Coutinho e outros tantos. Já tinha uma impressão que foi confirmada, não dá prá separar o compositor (e o artista) do militante, e a militância dá um grande sabor à arte. Meio que imperdível, destaco um trecho para reflexão: "...Não quero títulos, não almejo glórias, faço questão de não virar academia, tampouco palácio, eu sou o povo...."