domingo, 21 de setembro de 2008

ALEIJADINHO


“Aleijadinho- paixão,glória e suplício” ou “ O Aleijadinho”, é uma produção brasileira de 2001, dirigido por Geraldo dos Santos Pereira. O filme se propõe a contra a estória do artista brasileiro usando a técnica de flash back com a excelente Ruth de Souza fazendo o papel de nora do personagem, que conta sua estória para um historiador.Sentimentos nacionais á parte, é óbvio que o filme não funciona. Este tipo de filme “histórico” que fica no meio do caminho entre literatura e história, entre romance e documentário é muito difícil. Maurício Gonçalves que promete seguir a carreira do pai se esforça em um personagem difícil, mas o problema é que os personagens, mesmo a maravilhosa Maria Ceiça ficam perdidos na caricatura, da qual não escapam os mais experientes Carlos Vereza e Edwin Luisi. É um grande desperdício de grandes talentos, do diretor aos atores, passando pela trilha sonora de Edino Krieger e pelas belas imagens (talvez um dos maiores destaques). Há várias leituras do personagem Aleijadinho, me lembro de ter visto um filme, acho que com o Stenio Garcia fazendo o personagem, em que o aspecto subjetivo do artista é mais transparente, ou seja, explora-se a genialidade do artista como um aspecto de sua “doença misteriosa” que fica entre a loucura e a epilepsia. Neste trabalho de Geraldo Pereira dos Santos o que transparece primeiro é o sofrimento racial do artista, fruto da miscigenação e filho de escrava alforriada e posteriormente alijado da sociedade pela estética deformadora resultado de sua doença, mas o filme é superficial em transpor esta subjetividade para a arte, ou seja, fala-se sempre em características singulares da obra em outros momentos aponta-se para a existência de um “barroco brasileiro”.Embora tais questões artísticas sejam tratadas de forma muito sutil, a não ser por uma citação de Germain Bazin (historiador da arte e grande especialista em barroco) ao final do filme, cabe destacar tais referências como algo bastante positivo no filme.O chamado “estilo barroco” teve características bem diversas em vários lugares do mundo, sendo flagrante as diferenças entre o barroco desenvolvido nos países de colonização espanhola e no Brasil. A intencionalidade da imponência e do fausto em oposição ao “frugalismo” da contra-reforma, o rebuscamento e o “detalhismo” (figurativo ou abstrato) são algumas das importantes características do “ estilo”. A associação entre estas características e o período de exploração intensiva de mão de obra escrava nas minas é algo que poderia ser mais trabalhado pelo filme, pois toda imponência tem um custo, e talvez isto diga algo sobre a impossibilidade de um barroco em sociedades com regime de trabalho livre ou no mundo de salários globalizados, bem como em possíveis exceções em países com excesso gritante de oferta de mão-de-obra.Outro aspecto artístico que o filme levanta de leve é a influência negra na arte barroca brasileira, hoje já objeto de inúmeros estudos, que traceja o nosso barroco e o distingue do barroco em outros países inclusive europeus. A combinação da pedra com a madeira, os tons marrons, e as feições das figuras retratadas, são alguns destes pontos que mereciam um destaque maior. Assim como a religiosidade brasileira sofreu enorme influência da cultura negra, também a arte barroca caminhou passo a passo com esta inter-relação e a Igreja de Santa Efigênia em Ouro Preto talvez seja o símbolo maior de algo que já foi chamado de “ alma brasileira”.

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