Há uma tendência meio ufanista a considerar que a premiação de um filme brasileiro é sempre e automaticamente uma marca de valor. É e não é! Evidentemente, a premiação de um filme de um país quase sem tradição na produção cinematográfica de qualidade, não é algo de se jogar fora, e que certamente significa muito para o filme e para a indústria cinematográfica do país. Também não é de se jogar fora, a premiação em um festival como Berlim, onde as pressões comerciais são menos sentidas que em outros festivais, e muito menos se considerarmos que o júri era presidido pelo cineasta Costa Gravas. Agora, sobre o filme em si, que revi em homenagem ao prêmio, continuo com a mesma sensação – é um filme bem feito, mas que carrega uma ideologia negativa de valorização da violência, na medida em que o único personagem não caricato, é o que expressa esta mensagem de violência, que se afirma inclusive no final para o personagem mais popular (o aspirante Matias). Trata-se da ideologia fascista. Lembrando de que o último filme brasileiro a ganhar este prêmio (o urso de ouro) foi “Central do Brasil”, não posso deixar de lembrar que aquele filme tinha dois conjuntos de cenas que me incomodavam muito: O assassinato de um ladrão na estação e todas as referentes ao tráfico de crianças. As duas cenas são totalmente irreais e contribuem para uma imagem meio folclorizada da questão da violência e da criminalidade no Brasil. “Tropa de Elite” mantém esta tendência de folclorizar a criminalidade e a corrupção policial e pior, apontar falsas soluções, como se o BOPE não fosse parte da instituição policial, ou se o problema fosse apenas de fundo moral. Bom, esta crítica é apenas uma visão, e de alguém que tem um comprometimento muito forte com esta questão policial e da criminalidade. No mais o filme é bem feito, e os desempenhos do Wagner Moura, do Caio Junqueira (Neto), do Milhem Cortaz (Cap. Fábio) muito bons. Em matéria de realismo o filme deixa a desejar e prefiro o excelente documentário “Notícias de uma guerra particular” do João Moreira Salles, que aliás revelou um dos autores do enredo e roteiro, o ex-capitão do BOPE, Rodrigo Pimentel. Ao rever o filme não pude deixar de fazer a associação com os recentes discursos do Bush justificando a tortura em suas prisões, na “guerra contra o terrorismo”- é sempre assim que começa – um inimigo, uma guerra e a supressão da lei e do direito,com o respaldo da manipulação do sentimento popular.
2 comentários:
Olha, para mim, a premiação de Tropa de Elite, das duas uma ; ou reflete o baixo nível dos outros concorrentes ou é por questões políticas.
Que o filme é bom, não se discute, mas também não se pode negar que é em termos de técnica cinematográfica do nível de qualquer filme médio de ação americano.
Em relação a Central do Brasil, por exemplo, há uma distância enorme entre eles. Se Central do Brasil, também era um filme tecnicamente bem feito, mantinha ligações muito mais fortes com uma linguagem cinematográfica, digamos, brasileira.
Já Tropa de Elite, usa vários estereótipos típicos de filmes americanos : Os policiais corruptos,o policial durão e honesto, o idealista que a dura realidade torna pragmático e por aí vai.
O filme em momento algum é inovador ou arrojado, seja no conteúdo ( ultra- conservador), seja na forma (padrão normal de Hollywood).
Não quero dizer com isso que Tropa de Elite não seja um filme que mereça ser visto, mas sua premiação é no mínimo um exagero.
Concordo com vc, Rick! O filme é bom, mas reforça a imagem negativa de violência que o Brasil já tem em excesso. De qualquer maneira é um filme muito bem feito e vale a pena ser visto!
Central do Brasil pode ter todos os prêmios possíveis, mas eu o achei muito muito chato! Beijos
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