quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

ALEMANHA ANO ZERO

" Alemanha Ano Zero" (1948) é um dos clássicos da trilogia inaugural do chamado " Neo-realismo" dirigido por Roberto Rosselini. O pano de fundo do filme (característica do estilo) é a cidade de Berlim em 1947, totalmente em ruínas e o difícil cotidiano da população, tanto do ponto de vista material como moral. A não-utilização de atores profissionais (outra marca) tem benefícios e pontos negativos ( especialmente para quem gosta de cinema de atores, como eu). É sempre impressionante ver este pano de fundo e comparar com Berlim hoje, e ver como sessenta anos podem fazer grandes diferenças. Rosselini ao mesmo tempo que mostra algo (o realismo) que quer mostrar, conta uma estória subjetiva, com pitadas psicanalíticas, que depois influenciaram muita gente, entre elas Bertolucci por exemplo, além é claro, de todo o Cinema Novo no Brasil e a "Novelle Vague" na França. Não é um clássico à toa. Vale muito a pena!

sábado, 24 de janeiro de 2009

A PAZ É DOURADA


"A Paz é Dourada" é um documentário de Noilton Nunes, que assisti ontem no Canal Brasil. Não é fácil a construção da memória nacional, e o documentário que levou 20 anos para sua finalização, conta isto de forma criativa, tendo como foco de investigação a figura de Euclides da Cunha. O filme acaba contando a estória da virada do século passado, da influência positivista, da crença na ciência e no progresso das civilizações, e mostra o espírito aventureiro ( no melhor dos sentido), desbravador e o alcance geopolítico de sua formação. Ao mesmo tempo, o filme traça um interessante fio de decepção com a república e principalmente com os ideais republicanos, que atinge o próprio meio cinematográfico. Você não precisa c0ncordar interalmente com a versão pintada pelo autor do filme, mas ele pinta muito bem e de forma ampla. É um bom filme, inclusive formalmente criativo. Achei interessante também não se limitar ao estereótipo apenas da grande obra que é "os Sertões" que aparece no filme devidamente contextualizada. O filme se chamava originalmente "fronteiras" e depois mudou para " A paz é dourada" que obviamente nada tem a ver com o mesmo, e parece ter sido uma homenagem, assim como a participação, ao Grande Otelo.

quarta-feira, 21 de janeiro de 2009

ENSAIO SOBRE A CEGUEIRA

Esse é o segundo post sobre “Ensaio sobre a Cegueira”, mas o primeiro foi propaganda da filmagem. Aliás falando em propaganda, semana que vem, a partir do dia 27 tem uma série de filmes do Truffaut no Centro Cultural da Caixa. (Blindness) de 2008 é uma obra de arte cinematográfica construída em cima de uma obra de arte da literatura. O livro é muito mais “pesado”, confesso que até hoje não consegui passar do meio, e estou postergando o resto para quando tiver mais estômago, mas a medida que os anos passam acho que vou ficando mais mole. O tratamento cinematográfico permite que se veja até o final. Que fantástico o trabalho de fotografia, de direção de arte, de direção, dos atores, especialmente a Juliana Moore (em seu melhor trabalho, para mim) e o Danny Glover. Mas o melhor de tudo é o roteiro de Don Mckellar que é ruim como ator, mas fantástico como roteirista, pois não é fácil pegar uma obra prima e fazer um roteiro. Filme que conforme consta do extra (making of) fez chorar o Saramago e todos nós (acho que foi a primeira vez que me emocionei em um Making Of !) O Filme tem muita coisa para refletir sobre nós mesmos, são tantos os momentos bons. Eu particularmente gosto de um pedaço quase no final com o Danny Glover e a Alice Braga, quando ele deixa bem claro que prefere aquela situação que eles estavam vivendo do que a anterior quando tinham visão. Mas dá prá escolher muitos outros momentos fantásticos. Parabéns para o Fernando Meirelles, e toda a equipe, sem dúvida alguma!



terça-feira, 20 de janeiro de 2009

OS REIS DA RUA

"Os reis da Rua" ( Street Kings) é um filme de ação policial de 2008, estrelado pelo Keanu Reeves e pelo Forrest Whitaker. Confesso que quando li a sinopse não fiquei muito animado- policial durão ( ainda mais vivido pelo Keanu Reeves), parceiro morto, policial corrupto, não achei que tinha alguma novidade, e aqui entre nós, ninguém acredita mais em conto de fadas e luta do bem contra o mal, mesmo na polícia dos EUA. Quase perdi um grande filme ! O excelente roteiro de james Elroy e Kurt Wimmer ( o primeiro é quase um especialista) e a boa direção do David A|yer fazem um bom filme, em que as soluções fogem do maniqueísmo e no final poderíamos dizer que a violência tem sempre alguém e alguns interesses por trás. O final é muito bom. Pena que o Keanu Reeves seja um tipo de ator mais facial do que corporal, mas não chega a destoar muito. e o filme vale a pena em meio a muitas repetições, violência gratuita e clichês que infestam este meio dos filmes policiais de ação.

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

A SOLUÇÃO FINAL


"A Solução Final" é a tradução de "Eichmann" filme de 2007, que é totalmente baseado no interrogatório do comandante nazista preso na Argentina na década de 60. O filme tem uma dupla mensagem política- em primeiro lugar procura mostrar o esforço de Israel em dar um julgamento que não fosse baseado em simples vingança, e neste sentido, até mesmo colocar o interrogador, um oficial israelense, como tendo seu pai enviado ao campo de concentração pelo carrasco nazista, se fez, e nem assim o oficial abriu mão de seus princípios baseados na justiça. O segundo objetivo é transcrito em uma mensagem escrita ao final do filme, de defesa da democracia, pois segundo o filme apenas em regimes ditatoriais surgem figuras como Eichmann. Nenhuma discordancia, porém, sabemos hoje, e esta informação é atual, que supostas democracias como Israel também censuram a imprensa e manipulam não apenas a "opinião pública" mas o jogo político e com o mesmo antigo argumento de combater inimigos terríveis que atentam contra nossa soberania, suprimem-se liberdades e vidas humanas e não se vê nenhuma preocupação com a justiça ou qualquer direito. É um filme apenas razoável, pois perde-se em muitos momentos a ilusão de realidade, principalmente com o comportamento do Eichmann preso. Vale mais para quem gosta da matéria.

domingo, 18 de janeiro de 2009

UNIDOS PELO SANGUE

"Unidos pelo Sangue" é a tradução de "Threee Needles", um filme canadense de 2005, do diretor Thom Fitzgerald, que dá um panorama multicultural da AIDS em três realidades distintas, ou seja zona rural da China, Canadá e Costa Africana. Não é dos melhores filmes para você ver quando estiver com raiva da humanidade, pois o filme não vai te ajudar em nada. Quer seja no trato do comércio de sangue, na falta de cuidados no sexo profissional ou na adoção de modos de vida tradicionais e retrógrados do ponto de vista da saúde e da ciência, o filme não traz uma mensagem positiva em relação ao ser humano. Parece ao final do filme, que as religiões e os governos falharam na construção de um patamar ético para as relações humanas. O filme não é ruim, você pode ver, mas está avisado. É também a sua chance de ver a norte-americana descendente de chineses, Lucy Liu em um papel diferente.

sábado, 17 de janeiro de 2009

OS DESAFINADOS

"Os Desafinados" é uma produção do Flávio Tambellini, de 2008, dirigido pelo Walter Lima Junior, com bons atores ( Rodrigo Santoro,Angelo Paes Leme, Selton Mello, Alessandra Negrini, Claudia Abreu), direção musical do Wagner Tiso, fotografia do Pedro Farkas, ou seja um bom time, uma boa idéia (um grupo de músicos brasileiros bossa-nova que partem para uma tentativa de carreira em Nova Iorque). O filme consegue mostrar com razoável dose de realismo as dificuldades e o momento vivido, inclusive o caso do pianista brasileiro Tenório Junior que foi sequestrado e assassinado pelas forças da repressão argentina ( o corpo nunca apareceu). O filme é um pouco longo demais, mas é bom, e acho que não fez maior sucesso porque acabou se misturando com a enxurrada de homenagens (algumas bobas) sobre a bossa nov, e para muitos neste assunto, literalmente"chega de saudade"! Vale a pena ver, sem maiores pretensões,

quarta-feira, 14 de janeiro de 2009

O QUE VOCE FARIA ?

O que você faria? ( El Método) de 2005 é uma produção espanhola e argentina, dirigida pelo argentino Marcelo Pyneiro e baseada em uma peça de teatro do catalão Jordi Galceron, que aqui no Brasil está sendo encenada como " O método Gronholm" ( ou coisa muito parecida).E um bom filme, embora seja teatro filmado, em que sete pessoas se enfretam em um processo de seleção para um emprego, em, meio a protestos de rua contra o FMI e neste processo transparecem questões subjetivas, preconceitos e até sentimentos, que interferem muito e compõe uma encenação com forte sotaque psicológico. O lance do filme não é se deixar levar pelo suspense de advinhar quem é o escolhido, mas o processo pelo qual é escolhido e seus detalhes. Distrai com inteligência. Tem leve semelhança com o filme " A experiência" porém é mais subjetivo.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

ABOLIÇÃO

Minha reconciliação com a TV aberta tem sido feita com a progressiva melhora da TV Brasil e neste sentido, cabe destacar que grandes filmes tem sido exibidos, como este “Abolição” cujo diretor e roteirista é o ator e militante negro Zózimo Bulbul. Trata-se de um documentário de 1988 sobre a pós-abolição, que ajuda a mostrar uma faceta importante do país, que muitos preferem ignorar. A “libertação” veio acompanhada de uma política oficial discriminatória de imigração, que alijou os descendentes de africanos libertos da inserção normal no processo produtivo, sendo causa indiscutível, entre outras, da situação enfrentada nos dias de hoje por esta parcela de brasileiros. É um grande filme !



sábado, 10 de janeiro de 2009

COMÉDIA DO PODER

Meus conhecimentos de francês não são suficientes para identificar se a tradução melhor de "Ivresse du pouvoir" (2006) é mesmo " Comédia do Poder" embora esta tradução seja reprodução do inglês ( The comedy of power). Se for, trata-se quase sem dúvida de um grande equívoco, pois não há nada de comédia no filme. O diretor Claude Chabrol é quase um ícone francês e a atriz principal, Isabelle Hupert é muito boa, mas o filme deixa muito a desejar. Poderia ser excelente pois prometia ser um embate entre questões subjetivas ( vaidade, ambição,etc...) que atingiriam uma juíza investigando escândalos financeiros com a petrolífera estatal francesa, mas o filme não consegue exprimir nada. os personagens são todos estranhos, a juíza,o marido, o sobrinho, os empresários e políticos, ninguém apresenta aspectos subjetivos interessantes, nem deixa a entender quais são as suas motivações ( sociais, políticas ou subjetivas) para suas condutas. É um filme que tem muitos similares no cinema francês que as vezes é muito bom, e as vezes só pretensioso- acaba de repente e você não consegue encontrar o sentido. Um desperdício de estória...

sexta-feira, 2 de janeiro de 2009

SCORSESE,DYLAN E STONES



Este é um post duplo, que aliás completa dois outros, escritos em 28/10 e 04/11 sobre a série de filmes sobre Soul produzidos por Martins Scorsese e o outro sobre o filme "Não estou Lá" sobre o Bob Dylan. Este aqui falará sobre dois documentários - um intitulado " No direction Home" sobre o Bob Dylan de 2005 e o outro "Shine a Star" de 2008 sobre o Rolling Stones. De antemão, gostei muito do primeiro sobre o Bob Dylan e nem tanto do segundo sobre os Stones. Parece que uma atitude meio que reverencial ( que aliás transparece no filme) diante dos Stones, transforma o filme na mostra de um show recente com cenas documentais do passado, a maior parte entrevistas, que fazem um resultado pouco conexo. Já o primeiro é um brilhante documentário ! Minha vivência em Rolling Stones não era lá estas coisas, pois confesso que embora sentisse a alma de suas músicas (sem dúvida alguma "Satisfaction" era o hit) também me fazia falta um maior rigor técnico nas músicas e achava algumas meio que primárias. Aos poucos com o passar dos tempos, fui dando cada vez menos valor a esta técnica e maior valor ao sentimento, me identificando cada vez mais com os Stones. O filme é uma decepção neste sentido, pois não dá liga, não contextualiza nada e chega mesmo a parecer uma encomenda publicitária do tipo "Olha como ainda não estamos decadentes". Também não tinha grandes vivências em Bob Dylan. Nossa deficiência básica em Inglês, associado ao caráter dúbio de suas composições, transformava Bob Dylan em alguém que dizia coisas importantes, mas que ninguém entendia muito bem. Era Cult. É claro que tinha "Blowin the Wind" , " Like a Rolling Stone" e "Hurricane" que alguém explicava prá gente e a gente acabava gostando. Tinha uma certa implicância com a gaitinha também vá lá que seja. Depois do excelente documentário, você vai acabar entendendo tudo de Dylan, e principalmente um pouco mais sobre Folk Music, Estados Unidos dos anos 60, e sobre a trajetória de um ídolo e seu relacionamento tortuoso com fãs, amigos, imprensa e com o mercado. Vale muito a pena. Infelizmente perdemos a chance de fazer o mesmo com João Gilberto e a bossa nova. O tratamento cinematográfico que dão ao tema, me parece ridículo e infantil demais, ao contrário de bons livros escritos sobre o tema.

quinta-feira, 1 de janeiro de 2009

ASSASSINATO EM PRIMEIRO GRAU

"Assassinato em primeiro grau" (Murder in the first é uma brilhante produção de 1995, do diretor Marc Rocco, e estrelada por quatro excelentes atores, Kevin Bacon (fantástico no filme) Christian Slater, Gary Oldman e Willim Macy. Trata-se de um filme de julgamento, julgamento de um homem que preso em Alcatraz pelo roubo de cinco doláres, tenta fugir e fica em uma solitária por três anos, e quando sai de lá mata o preso que o denunciou. O filme é baseado em fatos reais, e acredite, foi nos estados Unidos, em Alcatraz ( que hoje nem é presídio mais). O filme é brilhante, imperdível para quem gosta de "justiça e direito" ( aliás tem outro bom , acho que "lei e ordem" com a dupla Oldman e Bacon) e vale a pena ser visto sem dúvida alguma.