Esse é o segundo post sobre “Ensaio sobre a Cegueira”, mas o primeiro foi propaganda da filmagem. Aliás falando em propaganda, semana que vem, a partir do dia 27 tem uma série de filmes do Truffaut no Centro Cultural da Caixa. (Blindness) de 2008 é uma obra de arte cinematográfica construída em cima de uma obra de arte da literatura. O livro é muito mais “pesado”, confesso que até hoje não consegui passar do meio, e estou postergando o resto para quando tiver mais estômago, mas a medida que os anos passam acho que vou ficando mais mole. O tratamento cinematográfico permite que se veja até o final. Que fantástico o trabalho de fotografia, de direção de arte, de direção, dos atores, especialmente a Juliana Moore (em seu melhor trabalho, para mim) e o Danny Glover. Mas o melhor de tudo é o roteiro de Don Mckellar que é ruim como ator, mas fantástico como roteirista, pois não é fácil pegar uma obra prima e fazer um roteiro. Filme que conforme consta do extra (making of) fez chorar o Saramago e todos nós (acho que foi a primeira vez que me emocionei em um Making Of !) O Filme tem muita coisa para refletir sobre nós mesmos, são tantos os momentos bons. Eu particularmente gosto de um pedaço quase no final com o Danny Glover e a Alice Braga, quando ele deixa bem claro que prefere aquela situação que eles estavam vivendo do que a anterior quando tinham visão. Mas dá prá escolher muitos outros momentos fantásticos. Parabéns para o Fernando Meirelles, e toda a equipe, sem dúvida alguma!
"Os reis da Rua" ( Street Kings) é um filme de ação policial de 2008, estrelado pelo Keanu Reeves e pelo Forrest Whitaker. Confesso que quando li a sinopse não fiquei muito animado- policial durão ( ainda mais vivido pelo Keanu Reeves), parceiro morto, policial corrupto, não achei que tinha alguma novidade, e aqui entre nós, ninguém acredita mais em conto de fadas e luta do bem contra o mal, mesmo na polícia dos EUA. Quase perdi um grande filme ! O excelente roteiro de james Elroy e Kurt Wimmer ( o primeiro é quase um especialista) e a boa direção do David A|yer fazem um bom filme, em que as soluções fogem do maniqueísmo e no final poderíamos dizer que a violência tem sempre alguém e alguns interesses por trás. O final é muito bom. Pena que o Keanu Reeves seja um tipo de ator mais facial do que corporal, mas não chega a destoar muito. e o filme vale a pena em meio a muitas repetições, violência gratuita e clichês que infestam este meio dos filmes policiais de ação.
"A Solução Final" é a tradução de "Eichmann" filme de 2007, que é totalmente baseado no interrogatório do comandante nazista preso na Argentina na década de 60. O filme tem uma dupla mensagem política- em primeiro lugar procura mostrar o esforço de Israel em dar um julgamento que não fosse baseado em simples vingança, e neste sentido, até mesmo colocar o interrogador, um oficial israelense, como tendo seu pai enviado ao campo de concentração pelo carrasco nazista, se fez, e nem assim o oficial abriu mão de seus princípios baseados na justiça. O segundo objetivo é transcrito em uma mensagem escrita ao final do filme, de defesa da democracia, pois segundo o filme apenas em regimes ditatoriais surgem figuras como Eichmann. Nenhuma discordancia, porém, sabemos hoje, e esta informação é atual, que supostas democracias como Israel também censuram a imprensa e manipulam não apenas a "opinião pública" mas o jogo político e com o mesmo antigo argumento de combater inimigos terríveis que atentam contra nossa soberania, suprimem-se liberdades e vidas humanas e não se vê nenhuma preocupação com a justiça ou qualquer direito. É um filme apenas razoável, pois perde-se em muitos momentos a ilusão de realidade, principalmente com o comportamento do Eichmann preso. Vale mais para quem gosta da matéria.
"Unidos pelo Sangue" é a tradução de "Threee Needles", um filme canadense de 2005, do diretor Thom Fitzgerald, que dá um panorama multicultural da AIDS em três realidades distintas, ou seja zona rural da China, Canadá e Costa Africana. Não é dos melhores filmes para você ver quando estiver com raiva da humanidade, pois o filme não vai te ajudar em nada. Quer seja no trato do comércio de sangue, na falta de cuidados no sexo profissional ou na adoção de modos de vida tradicionais e retrógrados do ponto de vista da saúde e da ciência, o filme não traz uma mensagem positiva em relação ao ser humano. Parece ao final do filme, que as religiões e os governos falharam na construção de um patamar ético para as relações humanas. O filme não é ruim, você pode ver, mas está avisado. É também a sua chance de ver a norte-americana descendente de chineses, Lucy Liu em um papel diferente.
"Os Desafinados" é uma produção do Flávio Tambellini, de 2008, dirigido pelo Walter Lima Junior, com bons atores ( Rodrigo Santoro,Angelo Paes Leme, Selton Mello, Alessandra Negrini, Claudia Abreu), direção musical do Wagner Tiso, fotografia do Pedro Farkas, ou seja um bom time, uma boa idéia (um grupo de músicos brasileiros bossa-nova que partem para uma tentativa de carreira em Nova Iorque). O filme consegue mostrar com razoável dose de realismo as dificuldades e o momento vivido, inclusive o caso do pianista brasileiro Tenório Junior que foi sequestrado e assassinado pelas forças da repressão argentina ( o corpo nunca apareceu). O filme é um pouco longo demais, mas é bom, e acho que não fez maior sucesso porque acabou se misturando com a enxurrada de homenagens (algumas bobas) sobre a bossa nov, e para muitos neste assunto, literalmente"chega de saudade"! Vale a pena ver, sem maiores pretensões,
O que você faria? ( El Método) de 2005 é uma produção espanhola e argentina, dirigida pelo argentino Marcelo Pyneiro e baseada em uma peça de teatro do catalão Jordi Galceron, que aqui no Brasil está sendo encenada como " O método Gronholm" ( ou coisa muito parecida).E um bom filme, embora seja teatro filmado, em que sete pessoas se enfretam em um processo de seleção para um emprego, em, meio a protestos de rua contra o FMI e neste processo transparecem questões subjetivas, preconceitos e até sentimentos, que interferem muito e compõe uma encenação com forte sotaque psicológico. O lance do filme não é se deixar levar pelo suspense de advinhar quem é o escolhido, mas o processo pelo qual é escolhido e seus detalhes. Distrai com inteligência. Tem leve semelhança com o filme " A experiência" porém é mais subjetivo.
Minha reconciliação com a TV aberta tem sido feita com a progressiva melhora da TV Brasil e neste sentido, cabe destacar que grandes filmes tem sido exibidos, como este “Abolição” cujo diretor e roteirista é o ator e militante negro Zózimo Bulbul. Trata-se de um documentário de 1988sobre a pós-abolição, que ajuda amostrar uma faceta importante do país, que muitos preferem ignorar. A “libertação” veio acompanhada de uma política oficial discriminatória de imigração, que alijou os descendentes de africanos libertos da inserção normal no processo produtivo, sendo causa indiscutível, entre outras, da situação enfrentada nos dias de hoje por esta parcela de brasileiros. É um grande filme !
Meus conhecimentos de francês não são suficientes para identificar se a tradução melhor de "Ivresse du pouvoir" (2006) é mesmo " Comédia do Poder" embora esta tradução seja reprodução do inglês ( The comedy of power). Se for, trata-se quase sem dúvida de um grande equívoco, pois não há nada de comédia no filme. O diretor Claude Chabrol é quase um ícone francês e a atriz principal, Isabelle Hupert é muito boa, mas o filme deixa muito a desejar. Poderia ser excelente pois prometia ser um embate entre questões subjetivas ( vaidade, ambição,etc...) que atingiriam uma juíza investigando escândalos financeiros com a petrolífera estatal francesa, mas o filme não consegue exprimir nada. os personagens são todos estranhos, a juíza,o marido, o sobrinho, os empresários e políticos, ninguém apresenta aspectos subjetivos interessantes, nem deixa a entender quais são as suas motivações ( sociais, políticas ou subjetivas) para suas condutas. É um filme que tem muitos similares no cinema francês que as vezes é muito bom, e as vezes só pretensioso- acaba de repente e você não consegue encontrar o sentido. Um desperdício de estória...
Este é um post duplo, que aliás completa dois outros, escritos em 28/10 e 04/11 sobre a série de filmes sobre Soul produzidos por Martins Scorsese e o outro sobre o filme "Não estou Lá" sobre o Bob Dylan. Este aqui falará sobre dois documentários - um intitulado " No direction Home" sobre o Bob Dylan de 2005 e o outro "Shine a Star" de 2008 sobre o Rolling Stones. De antemão, gostei muito do primeiro sobre o Bob Dylan e nem tanto do segundo sobre os Stones. Parece que uma atitude meio que reverencial ( que aliás transparece no filme) diante dos Stones, transforma o filme na mostra de um show recente com cenas documentais do passado, a maior parte entrevistas, que fazem um resultado pouco conexo. Já o primeiro é um brilhante documentário ! Minha vivência em Rolling Stones não era lá estas coisas, pois confesso que embora sentisse a alma de suas músicas (sem dúvida alguma "Satisfaction" era o hit) também me fazia falta um maior rigor técnico nas músicas e achava algumas meio que primárias. Aos poucos com o passar dos tempos, fui dando cada vez menos valor a esta técnica e maior valor ao sentimento, me identificando cada vez mais com os Stones. O filme é uma decepção neste sentido, pois não dá liga, não contextualiza nada e chega mesmo a parecer uma encomenda publicitária do tipo "Olha como ainda não estamos decadentes". Também não tinha grandes vivências em Bob Dylan. Nossa deficiência básica em Inglês, associado ao caráter dúbio de suas composições, transformava Bob Dylan em alguém que dizia coisas importantes, mas que ninguém entendia muito bem. Era Cult. É claro que tinha "Blowin the Wind" , " Like a Rolling Stone" e "Hurricane" que alguém explicava prá gente e a gente acabava gostando. Tinha uma certa implicância com a gaitinha também vá lá que seja. Depois do excelente documentário, você vai acabar entendendo tudo de Dylan, e principalmente um pouco mais sobre Folk Music, Estados Unidos dos anos 60, e sobre a trajetória de um ídolo e seu relacionamento tortuoso com fãs, amigos, imprensa e com o mercado. Vale muito a pena. Infelizmente perdemos a chance de fazer o mesmo com João Gilberto e a bossa nova. O tratamento cinematográfico que dão ao tema, me parece ridículo e infantil demais, ao contrário de bons livros escritos sobre o tema.
"Assassinato em primeiro grau" (Murder in the first é uma brilhante produção de 1995, do diretor Marc Rocco, e estrelada por quatro excelentes atores, Kevin Bacon (fantástico no filme) Christian Slater, Gary Oldman e Willim Macy. Trata-se de um filme de julgamento, julgamento de um homem que preso em Alcatraz pelo roubo de cinco doláres, tenta fugir e fica em uma solitária por três anos, e quando sai de lá mata o preso que o denunciou. O filme é baseado em fatos reais, e acredite, foi nos estados Unidos, em Alcatraz ( que hoje nem é presídio mais). O filme é brilhante, imperdível para quem gosta de "justiça e direito" ( aliás tem outro bom , acho que "lei e ordem" com a dupla Oldman e Bacon) e vale a pena ser visto sem dúvida alguma.
"Retratos da Vida" (Les uns et les autres) é o último post de 2008. Um filme clássico de Claude Lelouch, de 1981. O filme ganhou muita fama pela coreografia de Maurice Bejart para o Bolero de Ravel, dançada pelo argentino Jorge Donn (que eu tive o prazer de ver ao vivo no Aterro em 1989, antes da morte do dançarino-ator em 1992, dançando a mesma coreografia) e só por isso efetivamente já valeria a pena, mas é muito mais. É um filme longo para os atuais padrões (três horas) em que famílias da Russia, Alemanha, França e Estados Unidos vivem os anos do século XX e mostram como a guerra influiu em suas vidas. Pano de fundo, a música e a dança. Atores bons como James Caan (demasiado bom como sempre em dois papéis) Geraldine Chaplin, Robert Hossein, mostram duas gerações, que no final se entrelaçam em um espetáculo para a Cruz Vermelha. Há muitas questões levantadas pelo filme, mas a principal sem dúvida são as consequencias mais subjetivas da guerra nas gerações que adquiriram(?) a maturidade no período posterior. O filme é bom, sem ser excelente, mas cumpre bem o seu papel.Feliz 2009 para nós todos!
"Frida" é um excelente filme de 2002, da diretora Julie Taymor, cuja tarefa é bastante facilitada pela excelente escolha dos atores principais. Selma Hayek é certamente e fisicamente talhada para o papel e Alfred Molina como Diego Rivera não fica atrás (muito pelo contrário, se torna protagonista também, o que aliás tem rigor histórico). A personagem é fascinante, mas a maneira como é contada sua estória neste filme também é, de forma criativa e viva ( em nenhum momento do filme você o acha chato. Aqui não apenas a estória é bonita, mas também o filme ! Vale a pena re-ver !
"Tim Burton" é um dos grandes cineastas do "sobrenatural" ou se preferirem de uma vertente mais fantástica do "realismo mágico". Não é um dos meus estilos preferidos, mas gosto do "Edward Mãos de Tesoura" e da sua verão do Batman, que foge ao lugar comum. Este filme, "Big Fish" de 2003, é um bom filme, representativo da qualidade com que o diretor trata seus temas preferidos. Há ingredientes extras como os desempenhos do Ewan Mac Gregor, Jessica Lange e o sempre bom Albert Finney, mas não deixa de ser um filme de diretor, que fala sobre a desconstrução da imagem, da relação entre pai e filhos, mas basicamente sobre o romantismo e a fantasia. Não é tão bom quanto " Don Juan de Marco" que trata do mesmo tema com mais maestria, mas é bom.Provavelmente o Tim Burton não leu o Guimarães Rosa, mas tem tudo a ver com a "Terceira Margem do Rio".
Coisas Belas e Sujas (Dirty Pretty Things) é uma produção britânica de 2002, do diretor Stephen Frears. O diretor, desde seu primeiro sucesso no cinema," Minha adorável Lavanderia" de 1985, já dizia que seria uma espécie de papa do multiculturalismo. No filme em questão, não há mudança de regra - Trata-se de mais um filme de Londres em que pouco se vê ingleses- turcos, nigerianos, eslavos, espanhóis e outras etnias se mostram em uma película de ação, que tem tons de drama, romance e comédia em torno do tráfico de órgãos. A coisa é mais bela do que suja, e o roteiro, sem nenhuma pretensão de seriedade ao seu final acaba sendo algo divertido e demonstrativo da enorme babel cultural em pelo menos uma grande parte de Londres. O grande desempenho é do ator inglês Chiwetel Ejiofor, que faz o nigeriano Owke, bem secundado pela francesa Audrey Tatou e pelo catalão Sergi Lopez, embora todo o elenco esteja muito bem. É um filme que distrai bem e do qual você não se arrepende de ter visto, quando muito para ver uma face do multiculturalismo que é menos falsa que a maioria dos produtos nesta área, pois aqui não se vêem " encontros culturais amistosos", sendo muito significativa uma fala final do ator que faz o personagem nigeriano respondendo a um inglês porque ele nunca o tinha visto (não vou reproduzir para não estragar e por ser em grande parte com vocabulário impróprio). Um bom filme,cujo roteiro, de Steven Knight foi indicado ao Oscar de melhor roteiro original em 2004.
Show de Bola é um filme de 2005, lançado na Alemanha como " ruas do Rio", e no Brasil em 2008, do diretor alemão Alexandre Pickl, ambientado nas favelas do Rio. É um grande risco fazer um roteiro sobre um adolescente de uma favela que acredita estar no futebol sua chance de romper com um destino(?) cruel. O roteiro, que parece ter sido escrito a quatro mãos, corre este risco e não foge dos estereótipos normais, tipo "traficante que não quer o garoto trabalhando no tráfico, mas ele acaba se envolvendo, e ainda por cima se apaixona pela irmã do traficante, e por aí vaí". O filme só não descamba totalmente porque o Thiago Martins, egresso do grupo "nós do morro" dá um show de credibilidade a seu personagem, fazendo a fantasia parecer em alguns momentos real. O Lui Mendes até que se esforça como traficante, mas falta naturalismo em seu físico para o papel . Como retrato do Rio, acho uma tremenda forçada de barra, mas fazer o quê ...e Estereótipo é estereótipo. A trilha sonora é ajustada ( rap) e o trabalho do diretor é bom. Morno.
Trata-se de um refilmagem de um filme da década de 70, chamado " Jogo Mortal", em que Lawrence Olivier fazia o papel mais velho e Michael Caine o mais novo. Agora Michael Caine faz o papel mais velho e Jude Law faz o mais novo. Eu não vi o clássico, mas acredito que a diferença seja gritante, embora não ache o Jude Law um mau ator, e ele está se especializando em fazer refilmagens como Alfie, o sedutor e All The Kings Men. estes dois eu vi as duas versões e nunca é a mesma coisa. Este em especial é mesmo teatro filmado, sem deixar de ser cinema, mas é quase todo centrado no desempenho dos atores e fica claro o quanto o Michael Caine consegue ser mais natural enquanto o Jude Law precisa forçar a mão e resvalar no caricato. A direção é do Kenneth Brannagh e para quem gosta do trabalho de bons atores vale a pena ver, sem dúvida. O roteiro é meio hermético, mas fala o tempo inteiro de um jogo de poder cotidiano e de uma espezinhação bastante humana. Achei a solução do policial totalmente fora de sintonia e estragou bastante o desenrolar da estória. Vou tentar ver o original para comentar.
O filme "Tango" é uma produção Carlos Saura de 1998, com todos os ingredientes das demais produções do diretor, e sempre um belo espetáculo para quem gosta de música e dança principalmente. O autor quase sempre filma a realização de um filme, falando sobre os limites da realidade e da arte, uma estória de amor, que normalmente envolve um ou mais personagens e o diretor e no meio disto, muita música e muita dança, coreografias fantásticas, enfim, um verdadeiro show com muita beleza, sentimento e emoção. Há uma coreografia em particular que trata dos anos de chumbo e da repressão, na Argentina, que é bastante criativa e merece ser destacada. Acho que quando uma fórmula dá muito certo, deve ser copiada ( a estrutura, é claro) e é isto que Carllos Saura faz muito bem. Não deixa de ver.
Está rolando no CCBB uma mostra de filmes antigos do Bertolucci, e resolvi assistir o que parece ter sido o segundo filme do festejado diretor, um filme de 1964, "Antes da revolução", na qual ele faz uma espécie de " revisão" de um famoso romance de Sthendal, tendo como ambiente a cidade de Parma, que também parece ser o berço natal do diretor. Uma característica do Bertolucci é misturar subjetivismo e política, e alguns bons filmes já foram dirigidos por ele, como o recente " os sonhadores". Neste P&B o acento é quase todo no subjetivo, no romance entre o personagem principal e sua tia, que representam ambos tipos de burgueses, mas o filme não consegue deixar as relações claras e fica muito difiícil de entender os aspectos simbólicos que certamente devem estar presentes, restando um produto chato e pretensioso, que muitas vezes assola o cinema europeu da década de 60. Se você pensar no subjetivismo de `"O Último Tango em Paris"e "La Luna", por exemplo vai ficar claro o antecedente nesta película, mas para mim é muito tempo desperdiçado com questões muito particulares. Os atores pouco conhecidos, também não ajudam com o resultado e resta mesmo forte a impressão de desperdício....
Faz muito tempo que não assisto " Hair" de Milos Forman(1979), mas resolvi me dar este presente de natal. É muito difícil eu gostar de um musical, mas quando gosto, acho fantástico, e este não é diferente. A parte musical e de dança do filme ( Twyla Tharp) é o seu ponto alto ! Não é um filme de ator, certamente e Jonh Savage, Treat Willians e Beverly D'Angelo são a prova disto, dão conta do recado, mas é só, e chega, pois o filme, mesmo com o foco na questão da guerra do Vietnam, demonstra toda a (contra) cultura dos anos 60, com sua rebeldia e seus cabelos compridos. Não há como deixar de ter alguma saudade, mesmo ciente de que a vida e a luta sempre continua.....
Se você procura um filme de humor, aqui está mais uma boa pedida. " Idiocracy" é uma produção de 2006, do Mike Hudge, que é o responsável pela dupla Beavis e Butt-Head, o que em todos os Estados Unidos representa o máximo de humor sarcástico, irônico, e vai ver que este filme não deixa a peteca cair. O filme começa fantástico, a idéia é fenomenal. A evolução alija a inteligência e só os mais despreperados, ou melhor, os idiotas sobrevivem aos anos e são defrontados com uma pessoa mediana, que 500 anos depois , acorda de um projeto de hibernação das Forças Armadas. É bem verdade, que o filme cai um pouco e o final não tem a mesma força, mas até lá você já deu muitas risadas boas e melhor, como ainda não estamos na época em que passa o filme, podemos refletir um pouco. O ator principal, Luke Wilson, funciona muito bem para o filme, que não é um filme de atores, mas de roteiro, e que roteiro ! Também vale a pena observar as soluções ceonográficas que são fabulosas e ajudam muito. Vale a pena ver, e esquecer um pouco um certo clima televisivo...
" Trilhos do Destino" ( Rails e Tails) é uma produção de 2007/2008, com direção de Aliston Eastwood ( filha do Clint) estrelada pelo Kevin Bacon e pela Marcia Gay Harden. Grande parte do lado bom do filme, é justamente o desempenho dos dois atores e em especial do Kevin Bacon, que é um dos grandes atores norte-americanos hoje e que coincidentemente ( ou não) em certos momentos lembra muito a face dura e que expressa sentimentos do Clint Eastwood. No mais trata-se de um melodrama dirigido profissionalmente, que emociona sem cair no caricato, porém nada mais do que um melodrama, ou seja, fica naquela sensação de um roteiro artificialmente criado para te emocionar.É muito difícil emocionar tamanho o clima artificial da estória, mas quem gosta deste tipo de cinema, tem neste filme um bom entretenimento, com um bom desempenho de atores. A diretora promete seguir a fecunda carreira do pai.
O filme " Auto Focus" é uma produção de 2002, do diretor Paul Schraeder, de quem comentei recentemente (em outubro) o excelente " O acompanhante" , realizado em torno da história do ator, assassinado, Bob Crane, que foi o astro do seriado de humor "Guerra, Sombra e Agua Fresca", no qual fazia o Coronel Hogan. É muito interessante a história, que assim em linhas gerais, fala de vícios sexuais e da decadência do ator, cuja vida pessoal o incompatibilizou com a carreira. O desempenho do ator Greg Kinnear, que ganhou o oscar de melhor ator coadjuvante em " Melhor é impossível" é muito bom, secundado pelo excelente William Dafoe, em um papel difícil que ele leva muito bem. Não é um tema dos mais inovadores, mas o desempenho e a direção transformam em um bom filme. Não é brilhante, mas sem dúvida alguma interessante.
" Quase nada" é um filme de 2000 do diretor Sérgio Rezende e da produtora Mariza Leão, uma dupla que remonta aos cineclubes e que já fez grandes filmes como " Mauá", " Guerra de Canudos", "Zuzu Angel" e o " Homem da Capa Preta". O filme são na verdade três episódios, trazendo para a tela dramas que se passam em um cenário rural que apesar de tão próximo, nos parece tão distante. Os dois primeiros episódios são muito bons, com exzcelentes desempenhos de atores que conseguem compor muito bem o tipo rural, com destaque para o Genézio de Barros no segundo episódio. O grande equivoco do filme é o terceiro episódio e a escalação do Caio Junqueira que quebra o ritmo, destoando da composição rural que o filme traz. Não chega a estragar totalmente mas prejudica muito. De qualquer jeito vale a pena conhecer algo mais sobre uma realidade que parece até documentário de tão distante.
O filme " A Via láctea" de 2007, é o segundo longa da diretora paulista Lina Chamie, filha do poeta Mario Chamie e com uma sólida formação na área musical e na filosofia. O filme é uma saudável experiência criativa, na qual a câmara funciona de forma não convencional, com ritmo que se envolve com um segundo personagem que é a cidade de São Paulo, em torno do bom desempenho dos atores Marco Ricca e Alice Braga, especialmente o primeiro, e com instigante trilha sonora, com direito a musiquinha de Tom e Jerry e muita poesia. É um filme muito criativo, porém, não há (?) como deixar de ser bastante hermético ( eterna discussão sobre o hermetismo da erudição) e em muitos momentos chato e bocejante. Prá quem gosta de criatividade refinada e experimentar o novo e está disposto a sacrificar o lado do mero entretenimento, vale a pena ver. Foge do previsível, especialmente em termos de cinema brasileiro.
"O amor nos tempos do cólera", é uma produção norte-americana de 2007, dirigida por Mike Newell ( de quatro casamentos e um funeral, e Harry Potter) com um elenco multicultural,onde cabe inclusive a nossa Fernando Montenegro e o Javier Bardem, baseada em romance do Gabriel Garcia Marquez. Eu li o livro e sempre que isto acontece, é raro gostar do filme, pois o livro é sempre muito melhor, mas neste caso, aconteceu algo interessante- a adaptação é tão diferente, que pouco dá prá comparar. O coléra que no livro tem um papel, quase que some no filme. No final sobra um bom filme de romance, feito nos padrões "cinemão", tecnicamente perfeito ( há belas imagens) mas com pouca emoção e criatividade. Não dá prá chorar, mas dá prá ver.
O Signo da Cidade é uma produção brasileira de 2008 da dupla Carlos Alberto Ricelli & Bruna Lombardi, estrelado pela segunda e dirigida pelo primeiro. São estórias de vários personagens em torno ( mais ou menos em torno) de uma astróloga, que responde consultas pelo rádio e lê cartas. A Astróloga (Bruna) não fala com o pai ( Juca de Oliveira) desde os doze anos, pois o mesmo a teria abandonado. São continuas desgraças envolvendo todos os personagens. Se eu entendi direito a letra da música principal, há uma suposta oposição entre o que pode estar escrito nas estrelas ( o destino) e o que podemos mudar no caminhar, mas o filme não mostra muito isto, os personagens parecem estar condenados a trilhar caminhos já traçados o que leva a coincidências ridículas e inverossimeis ( não vou contar para não estragar) e encontros gratuitos e sem sentido. É um filme mediano, com alguns bons desempenhos ( o próprio Juca, Denise Fraga e Eva Wilma) mas a maioria é bastante sofrível. Com alguma dose de paciência e complacência dá prá ver.
Não se deixe enganar pelo título, "Felicidade" (Happiness) de 1998, é uma sátira forte e mordaz de uma família (casal e três filhas maiores) e sua busca por uma felicidade que não parece existir. O filme é meio indigesto e pesado, porque trata de um tema que também o é, ou seja a pedofilia. O humor mordaz, acompanha o desenrolar do filme desde o começo, e o trabalho dos atores, muitos com experiência de teatro, sem grandes nomes conhecidos ( Ben Gazzara, Jon Lovitz e Phillipe Seymour, como exceções) e com um desempenho fabuloso de Dylan Baker em um papel difícil e de Jane Adams, que faz um personagem caricato ( mas nem por issso irreal) e interessante chamado de Joy Jordan. A direção, corajosa e afiada é de Todd Solondz. É claro que não fez sucesso e nem fará, mas se você resolver assistir, verá um filme com cenas fortes, que choca um pouco pelo humor ácido, e tem uma cena antológica do Ben Gazzara na mesa com a mulher e as filhas, que sem diálogo, mata a pau no gestual. Bom filme.
"Capítulo 27" é uma produção canadense de 2007, dirigida e roteirizada por J.P. Shaeffer, que tem uma proposta difícil, ou seja, contar os três dias que antecederam o assassinato de Jonh Lennon pela ótica de seu assassino, Mark Chapman, tentando transportar para o cinema, a confusão mental de Chapman em que se misturam referencias religiosas, desilusões sociais com o ídolo e um certo romantismo deprê. O título é uma referencia ao livro " O Apanhador no Campo de Centeio", que Chapman venerava e tinha consigo por ocasião do crime, sendo que ele acreditava incorporar o personagem principal do livro. O filme não consegue ser bom, acho que a estória poderia ser contada de forma mais criativa e com mais referencias, fica tudo muito solto, desconexo e só com muito esforço faz algum sentido. O mesmo roteirista que fracassa, dirige bem o filme, e o Jared Leto faz um bom esforço para construir o personagem principal e quase único do filme ( ele é um bom ator dos que vieram da Tv para o cinema - lembrei do excelente "Senhor da Guerra" no qual elee faz o irmão do Nicholas Cage) mas as dificuldades são muitas e o filme escorrega no pouco sentido e uma certa lentidão. As conexões são meio ridículas de tão doretas, como os di[alogos sobre o fato do Jonh Lennon ter posses e do prédio onde ele morava e foi assassinado ser o palco do filme " O bebê de Rosemery" e a ligação com a morte de mulher do Polanski. Poderia ser muito, mas muito melhor!
Embalado pela estupenda vitória do Obama, resolvi conhecer algo mais sobre a história dos presidentes norte-americanos, e peguei este filme, produzido pela HBO, originalmente para TV, no qual o Gary Sinise faz o personagem do presidente Harry Truman, do qual eu pouco conhecia, a não ser a célebre piada do " How Do You Do Dutra, How Tru Yu Tru Truman" e o fato de que ele era um homem comum, fazendeiro falido do sul dos Estados Unidos, democrata, e que todos achavam ( inclusive ele mesmo) que não estava preparado para o cargo, além é claro de ter determinado a explosão das Bombas de Hiroshima e Nagasaki. O Gary Sinise é muito bom, apareceu mais para o cinema como o tenente de "Forrest Gump", mas depois acabou virando ator mais de TV. O filme é um típico filme norte-americano, ou seja, ressalta totalmente as características individuais do personagem, pouco mostrando do contexto, tipo " My Way", o que no caso em tela, apresneta a enorme dificuldade pela ausencia de características subjetivas interessantes no personagem. De bom o filme faz uma mistura de imagens reais da época e achei ruim a escolha dos atores para quase todos os demais personagens, que chamam a atenção pela interpretação ruim ( inclusive os familiares do Truman, Mac Arthur, Marshall e companhia limitada.) Prá quem gosta de novela é um passo a frente, mas está longe de ser bom. Apenas para anotar, todos os negros do filme são empregados domésticos !
A Massai branca (Die Weisse Massai) é um filme alemão de 2005, dirigido por Hermine Hungterburth, que tinha tudo para dar errado, assim como o improvável, mas real ( baseado em livro autobiográfico) romance e convívio entre uma comerciante suiça de férias e um guerreiro da etnia massai, no Quênia. A União , embora tenha gerado uma filha e interessantes intercessões e embates culturais, não foi muito prá frente, mas o filme é surpreendentemente bom, propicia reflexões e debates e entretem, sendo salvo por uma boa direção e o bom desempenho da atriz principal Nina Hoss. Para quem gosta do assunto ( possibilidades de convivência entre diferenças culturais significativas) e para quem gosta de entretenimentos diferentes, o filme funciona bem. Tá bom, me rendo, é mesmo prá quem gosta de algo exótico, não há dúvida.
O filme "Das Experiment" (2001) é um alemão, dirigido por Oliver Hirschbiegel, que em 2004 fez o mais famoso " A queda- as últimas horas de Hitler", que é um filme muito bom. Este também é, mas tem algumas falhas. O principal acerto do filme é o bom desempenho de todos os atores. Recentemente no post de " O acompanhante" me impressionou este ator alemão Moritz Bleibtreu, que deve alcançar um grande destaque. Também está muito bem o Christian Berkel, que faz o preso 38, e que foi um oficial médico no filme " A queda", mas todos em geral estão bem. O filme trata de uma experiência científica que envolve aspectos psicológicos entre presos e guardas, e que na verdade demonstra o quanto estas simulações fogem ao controle real, quando estão envolvidos o exercício do poder e da liberdade. A presença de uma caixa preta no experiência, que coincidentemente tem ligações com o passado do personagem principal, torna o filme mais artificial do deveria e também acho que há algum exagero excessivo em situações meio que clichês, mas é um filme que vale a pena ser visto sem dúvida alguma. De um modo geral me lembrou (sem nenhuma comparação de qualidade) o excelente " Um estranho no ninho" que consegue fazer discussão semelhante sem o artificialismo deste. Vale a pena dar uma olhada e refletir sobre o conteúdo. A meu juízo é melhor que as experiências de ficção científica que pululam nas telas.
O filme "I'm not There" é uma criativa experiência cinematográfica do diretor e co-roteirista Todd Haynes, focada na imagem do músico e ícone cultural norte-americano Bob Dylan. Preocupado em mostrar facetas diversas do símbolo, o diretor se utilizou de atores diversos, para mostrar estas imagens. A Cate Blanchett mata a pau, fazendo a fase mais doidona do músico, mas também estão muito bem o Cristian Bale e o garoto Marcus Carl Franklin. O Richard Gere prá variar destoa, e fora do papel título também estão bem a Juliane Moore e alguém hilário que faz o Allen Ginsberg. É claro que é um filme interessante para quem gosta de trabalhos criativos de dieção e roteiro, mas que é melhor compreendido por quem já tem alguma noção do que é (em parte pelo menos) o Bob Dylan.O filme enfatiza certos aspectos subjetivos que ficam claros e faz várias discusssões interessantes, um pouco centradas demais na questão da pureza da música folk, pureza esta que teria sido traída pelo músico, além de um certo inconformismo do mesmo com o papel de porta-voz político. estes são os pontos altos do filme. Eu, pelos motivos expostos acima, gostei.
"As mulheres de Rosenstrasse" é um filme da diretora alemã, Margarethe Von Trotta, do ano de 2003, que fala sobre dois assuntos que estão sempre no foco da diretora: A guerra e o papel feminino. Trata-se de um filme sobre episódios pouco conhecidos e segundo o filme reais, em que ao final da segunda guerra (1943) mulheres arianas que tinham casamentos mistos com judeus, se organziaram em um movimento nas ruas de Berlim, para resistir a que seus maridos fossem enviados a campos de concentração. Uma espécie de " mães ( e mulheres) da praça de Mayo, é sempre algo interessante como informação, mas que poderia ser mostrado em um filme menor. Não chega a ser Totalmente enfadonho, mas a estória que é construída em cima desta informação é meio sem pé nem cabeça, ficam muitas perguntas sobre o comportamento da personagem da mãe de Hannah, que é meio inexplicável. Se não me engano já vi um filme melhor da diretora sobre a Rosa de Luxemburgo, mas este não é totalmente desproviso de interesse.
"Cleópatra" é um filme de 2007 , do Julio Bressane. O diretor e roteirista, construiu uma carreira, como alguém que filma e faz um cinema de poucas concessões a um suposto interesse do público, ou seja, investe ao máximo no autoral e no caso dele, o autoral passa por deixar claro que está pouco se lixando para o que o público possa achar. O filme foi premiado como melhor filme do festival de Brasília em 2007 e quando foi anunciado foi bastante vaiado por este público. Desde a época de "Matou a família e foi ao cinema" o diretor construiu uma imagem de "cult" e em certas rodas falar mal do Bressane é.....Procurei tentar entender algo que o diretor estivesse tentando passar. Está claro que há uma tentativa de significar a cultura latina, a cultura egípcia e a grega. Também está claro algumas questões ligadas ao sexo, ao desejo. A produção é boa, a fotografia ( também premiada) é boa, o desempenho dos atores, especialmente a maravilhosa Alesandra Negrini, mas também a tríade de Cesares e até o Miguel Falabella. Mas fica a sensação de que muito investimento para tão pouco. Um filme chato, que mesmo com a maior boa vontade, não dá mesmo vontade de ver, a não ser para uns poucos iniciados, que do gueto, mergulhados em muita pretensão, devem ver algum divertimento ainda que sério em um filme ruim. As vezes ( muitas vezes) a voz do público é sábia. Não custa nada ouvi-la.
Este é um “post” especial, em que falo de um filme, um documentário sobre Blues e ao mesmo tempo presto uma pré-homenagem a quem espero seja o futuro presidente dos Estados Unidos da América na semana que vem. Ao mesmo tempo falo de mim e acho que de muita gente, que através de uma forma musical e de toda uma cultura que a acompanhava (genericamente chamada aqui do Rock, mas que desde já envolve o Blues, o Jazz e todas as múltiplas variações e relações) pode experimentar desde os anos 60 da década passada, uma forma de viver mais livre, menos preconceituosa, e com mais foco no prazer.
O filme é um documentário de 2003, do Win Wenders, chamado “The Soul of a Man” que faz parte do projeto”Blues” produzido entre outros por Martins Scorsese. Falar do Martin Scorsese e seu gosto pela música (além de máfia e dos ítalo-americanos, é claro) é lembrar o recente “Shine a Light” em que o diretor filma os Rolling Stones (ainda não vi).Falar do Win Wenders, um diretor alemão, cujo trabalho de arqueólogo da cultura, ou historiador da arte, está bem expresso no seu “Buena Vista Social Club”, e que sempre foi o cineasta alemão mais próximo da cultura norte-americana.
Grande parte dos filmes do projeto, e o de Wenders não foge à regra, fala em algum momento, sobre o período mágico em que a música de origem negra norte-americana chega ao velho mundo (a Europa) e influencia toda uma geração, que a reprocessa e a torna sucesso, inclusive, nos próprios Estados Unidos, onde ela já não empolgava tanto. O que esta música de origem negra representou para esta juventude na Europa ( e para nosotros, é claro), é algo que os filmes tentam mostrar, mas que eu acho que é muito grande para se colocar em tão poucos papéis e tão poucas linhas que ainda existem sobre o assunto.Lembro ainda do bom filme “The Commitments”(1991) do Alan Parker, que também é sobre isto.
O documentário parte de três grandes músicos do Blues Norte-Americano (Blind Wllie Jonhson, Skip James e J.B.Lenoir) que em épocas diferentes compuseram grandes sucessos, mas nunca tiveram nenhum sucesso financeiro, e mostra aspectos da vida destes músicos, contrapondo com interpretações mais recentes. Acho que o mais simbólico do filme é o trecho que mostra que a gravação de “I’m so glad” de Skip James pelo Cream no final da década de 60 foi que ajudou a pagar o tratamento do compositor e sua sobre-vida por mais três anos.
Acho que uma grande dificuldade para todos nós que gostamos desta música e desta arte, é conciliar todo o romantismo que há nelas, os bons sentimentos, “good vibrations”, o lado dionisíaco, com uma realidade bastante hostil, onde ainda prevalecem os preconceitos, a violência, e toda uma gama enorme de defeitos humanos. Não são poucos de nós que tem enormes dificuldades (acho que todos) em lidar com este choque, e muitos sacrificam justamente o seu lado romântico e sucumbem aos clamores do real. Uma área onde este embate é mais difícil é na política. Saber conciliar sonhos e ideais com um meio totalmente hostil é muito difícil, e a tentação não apenas de sucumbir aos meios tradicionais e abandonar os sonhos,mas principalmente de sacrificar o possível pelo ideal é muito forte.
Voltando ao Blues, estou impressionado com o Obama, com a sua capacidade de se colocar em um país onde o racismo é muito forte, e traduzir ao mesmo tempo os sonhos e ideais de justiça social e o seu pé-no-chão de lidar com o complexo e falho sistema eleitoral norte-americano. Há grande chances de vitória do mesmo, nas eleições da semana que vem, e isto é muito, muito emocionante. Se ele vencer, será pela sua capacidade de traduzir esperanças de mudança, o que motivou um grande número de pessoas a participar do processo eleitoral, que anteriormente nunca serviu para muita coisa para estas pessoas, e posteriormente a sua escolha como candidato, a sua caminhada para uma posição mais conciliadora, sem posições radicais que afetassem a sua capacidade de ser eleito, ou até de ficar vivo. Muitas razões ele teria para fazer este discurso mais forte, mas ele quer ganhar a eleição, e não se tornar mais um candidato, ou mesmo um mártir.
A sua vitória na semana que vem, se confirmada, será um sopro emocionante de vida em nossos corações, motivo de muita festa, pois é a vitória do Blues, da alma, do Soul, do sentimento. Não interessa se ele não vai conseguir fazer todas as mudanças que muitos esperam, pois o que interessa são as mudanças que ele vai conseguir fazer e o que a sua candidatura já fez.
E nós, continuaremos a viver esta realidade, sonhando sempre, com um pé em cada lado do abismo, nem tanto no ar, nem tanto na terra, mas embalados por esta arte maravilhosa, que é a música, o cinema, o som, a imagem, e o trabalho do Homem.
“Paradise Now” é um filme de 2005, dirigido pelo palestino Hany Abu-Assad, que foi indicado para o Oscar de melhor filme estrangeiro, e realmente é um filme muito bom, que eu revi por estes dias. Trata-se da história de dois amigos, escalados para um atentado como homens-bomba. O filme surpreende a todos aqueles, como eu, que tem uma visão simplista de que estas pessoas são radicais islâmicos que de uma forma irracional se suicidam por razões religiosas. O filme mostra que é bem mais do que isto, e aliás o filme acaba mostrando bem mais do que isto, é um prazer conhecer o que é a realidade da Palestina e logo ali,de Israel. Uma das cenas mais deslumbrantes é quando eles estão chegando em Israel para o atentado. A diferença é significativa! Dizer que o filme é bem filmado é mais do que simples redundância e os atores e atrizes são muito bons, em resumo, distrai, informa e faz pensar, o que define a meu ver um excelente filme!
O filme “Agosto Negro” (Black August) de 2007, conta a história de George Jackson, escritor negro, que de dentro do presídio participa da luta dos “Panteras Negras” e acaba morto após liderar um motim. O filme é um pouco lento demais, mas tem acertos. Primeiro, o diálogo que faz com imagens da época, acentua o seu caráter informativo, que é fundamental em se tratando de algo que é muito pouco divulgado. Segundo, o desempenho do Gary Dourdan, que é basicamente um ator de seriados de TV que eu não vejo, mas parece ter muita fama como integrante do C.S.I. (seja lá o que isso for). O cara trabalha muito bem, construindo com o roteiro a essência do filme que não é sobre presídio e nem mesmo sobre como ele escreve o livro, mas sobre como ele se relaciona subjetivamente com o racismo. Neste período que esperamos seja pré-Obama, a luta contra o racismo é algo que deve ser bem informado, e o filme faz este papel de forma interessante. Não chega a ser um grande filme, mas dá bem pro gasto !
Há um gênero de cinema que é muito difícil, que é a comédia. Temos muitos bons atores e programas de TV de comédia, mas quando vai para a "telona" fica muito ruim. O problema é que as vezes queremos assistir uma comédia e temos poucas opções. No cenário internacional também não é diferente.As sitcoms quando se tornam filmes são muito ruins e muitas das vezes o chamado besteirol se tornou imbecilzol. O filme "os amadores" é uma produção nacional totalmente globalizada , de 2006, cuja direção é de José Alvarenga Junior, cuja especialidade é justamente estas comédias de situação do tipo " os normais", etc... O filme não é ruim, e tem o diferencial em três aspectos, o bom desempenho dos atores/atrizes, a trilha sonora e um roteiro razoável, que depena homens em crise aos quarenta e poucos. O único grande senão do filme, que aliás é comum em filmes brasileiros, é a ausencia de um final, talvez porque o pensamento seja mesmo no formato "vai continuando". O filme acaba de repente sem sentido. Os personagens centrais são masculinos, o Cássio Gabus ( excelente como sempre), o Ótávio Muller, o Matheus Natchergale e o Murilo Benício ( melhor do que o habitual). As coadjuvantes são ótimas, especialmente a Fernanda Torres ( que é boa para comédia) e até a Flávia Alessandra. Mas o grande lance do filme é o National Kid, não há dúvida alguma. Dá prá ver em um dia que você quer uma diversão sem profundidade alguma.....
O filme canadense “Juno” de 2007, dirigido por Jason Reitman, virou uma espécie de coqueluche cinematográfica, após ter ganho o Oscar de melhor roteiro original com Diablo Cody, que é pseudônimo de Brook Busey, uma bela mulher, que escreveu um livro contando suas aventuras como stripper, e hoje fez fama como roteirista. Algo assim (sem entrar no mérito da qualidade da obra) como uma espécie de “Bruna Surfistinha”. Com relação ao filme, a temática é a meu ver adolescente, e sinceramente não vi tão grandes qualidades assim. A atriz Ellen Page é o destaque no papel-título, mas os demais são meio fraquinhos. O roteiro é realmente criativo, mas achei que abordagem é tipo meio superficial. Talvez ainda a ótica canadense sobre o problema seja bem distinta da brasileira e daí o estranhamento, mas para mim, nada empolgante.
“Quanto vale ou é por quilo?” É um filme nacional de 2005, dirigido por Sergio Bianchi, que tem alguns aspectos positivos: Tem ótimos atores e atrizes em papéis interessantes (talvez com algum destaque maior para o Herson Capri, mas com ótimas participações de Ariclê Perez,Ana Lucia Torre, Lazaro Ramos e Silvio Guindane – Caco Ciocler está ruim). Tem a ótima “sacação” de fazer o paralelo das encenações de documentos históricos da escravidão com cenas contemporâneas de privatização da assistência social ( e do próprio Estado) e tem uma boa direção que não deixa ninguém morrer de sono e tédio, mas esbarra na aposta intencional de tratar com clichês e caricaturas, o que acaba tirando um pouco da seriedade ( que é pretensão) do filme. No final fica uma crítica estereotipada, que atinge inclusive o lado cinematográfico do filme, e como não descamba para o humor, assume integralmente o papel de libelo-acusatório, no qual a arte fica instrumental demais.
Para gostar um pouco do filme “O Ano em que nossos pais saíram de férias” (2006) dirigido pelo Cao Hamburger, foi preciso que eu fizesse um mergulho no meu passado, nos longínquos anos 70 e mais precisamente em 1970. É um filme fiel, ao que me recordo, ninguém falava de política, a maioria só se preocupava com futebol, e com o Brasil na copa. O filme procura retratar o período pelos olhos de um garoto, no bairro paulista do Bom Retiro. Aí o filme começa a não me dizer muita coisa, mas há um foco bastante evidente com a cultura judaica, e a figura do garoto como um Moisés. Há também uma evidente intenção de mostrar uma faceta multiculturalista do bairro, onde não falta um personagem negro. Não sei, soa meio assim, assim, e não chega a emocionar totalmente o sofrimento dos personagens ( é engraçado o filme passa um pouco frieza em termos de sentimento, embora trate de questões de sofrimento).. Os garotos estão bem e o outro único personagem que chama a atenção é o Schlomo, vivido por Germano Haint. Os demais são participações especiais. É um filme morno, eu acho.
"Eu sou Povo" é um bom filme sobre o grande compositor Candeia e sobre o G.R.A.N.E. S. Quilombo, criada por ele na década de 70. Garimpei da enorme oferta de títulos do excelente Festival do Rio. É um filme de Bruno Bacellar, Luis Fernando Couto e Regina Rocha muito bem feito, que tem uma primeira parte focada no compositor, em que metade da tela vai colhendo entrevista e a outra metade vai olhando de dentro prá fora do trem da central, criando um efeito interessante. Confesso que fica mais fácil de gostar quando se já é um admirador do personagem como eu, mas como diziam no passado, quem não gosta não é bom da cabeça...A poesia é forte e emocionante. Uma segunda parte mais focada na Escola criada pela fera, traz informações importantes e pouco divulgadas pela mídia (é claro) inclusive sobre a sua resistência. até hoje, nas mãos do ator Jorge Coutinho e outros tantos. Já tinha uma impressão que foi confirmada, não dá prá separar o compositor (e o artista) do militante, e a militância dá um grande sabor à arte. Meio que imperdível, destaco um trecho para reflexão: "...Não quero títulos, não almejo glórias, faço questão de não virar academia, tampouco palácio, eu sou o povo...."