segunda-feira, 29 de setembro de 2008

ARQUITETURA DA DESTRUIÇÃO

"Arquitetura da Destruição" é um filme-documentário de 121 minutos, do sueco Peter Cohen, fruto de suas pesquisas sobre o nazismo durante sete anos, lançado em 1989. Em se tratando de documentários, o Brasil não fica nada a dever aos estrangeiros como demonstram por exemplo "Notícias de uma Guerra Particular" do João Moreira Salles e quase todos os filmes do Eduardo Coutinho, mas este documentário é diferente e foge ao lugar comum dos muitos documentários sobre o nazismo. O filme, que é riquíssimo em imagens, tem uma tese: O nazismo era um projeto estético ( de embelezamento do mundo) e que empregou suas técnicas de propaganda e destruição para um objetivo que era um mundo harmônico e limpo. A maioria dos filmes sobre o tema enfatiza muito a bábarie nazista como se ela fosse o objetivo final e não um terível instrumento e o filme faz esta discussão, apresentando a escalada das teses eugenistas, o envolvimento da medicina, da arquitetura, das artes e demonstra o alto grau de planejamento. No campo das artes, a quase obsessão dos nazistas para com o retorno da antiguidade clássica greco-romana e com seus modelos de beleza, implicaram na rejeição à arte moderna ( tida como feia e degenerada). O filme defende sua tese com maestria, articulando este padrão estético com as medidas de higiene e ao final com o uso do gás. Trata-se de uma visão diferente, que contribui e muito para uma visão mais ampla do nazismo, principalmente para os que como eu privilegiam os fatores economicos na "determinação" social e política e que é muito importante neste atual momento europeu, onde as teses de discriminação contra os imigrantes ganham força política. Informação pode ser um ótimo entretenimento e este vale a pena !

sábado, 27 de setembro de 2008

PAUL NEWMAN (+)

A notícia da morte do excelente ator Paul Newman, nos leva a esta postagem especial, em homenagem ao mesmo. A primeira vez que me lembro do Paul Newman foi no auge do cinema catástrofe no excelente filme “ Inferno na Torre” e desde sempre (década de 70) ficou a imagem daquele ator que expressa em sua face, tudo aquilo que se quer dizer. Depois, muitos foram os filmes que vi (sem rigor cronológico) , com destaque especial para “O Golpe de Mestre”, “Exodus”, “ Marcado pela sarjeta” e “ Desafio à corrupção”.Acho que o estilo de atuar dele combinava mais com as películas da década de 60/70 onde transparecia jovialidade e sofrimento. Depois da década de 80, ficou com uma imagem mais de playboy ) talvez influenciado pelo gosto pelas corridas automobilísticas. O que lamentamos e muito é que estão indo embora os atores capazes de expressão facial e não surgem novos, com qualidade neste sentido particular da arte de atuar.

segunda-feira, 22 de setembro de 2008

SOMBRAS DE GOYA


Em uma espécie de comemoração pelas 100 postagens no blog e animado pela arte do Aleijadinho, assisti " Sombras de Goya" ( Goya's Ghosts) de 2006. É um filme de Milos Forman, o que por si só já anima, e me lembra "Hair" " Um estranho no Ninho" e "O Povo versus Larry Flint" entre outros clássicos. Muitos anos se passaram e o diretor continua tendo uma maneira inteligente de falar sobre assuntos importantes. Este não é diferente. É uma alegoria histórica construída em cima de tres personagens principais: O pintor espanhol Francisco Goya e sua obra (vivido e muito bem pelo já meio veterano ator sueco Stellan Skargaard), um ex-padre inquisidor Lorenzo, (vivido também com maestria pelo Javier Barden) e a bela Inês, filha de burgueses, presa e confinada pela inquisição na cadeia onde acaba tendo uma filha do padre, enlouquece e nem mesmo assiste a prostituição da filha ( também excelente a Natalie Portman). A figura e a obra do pintor são o personagem principal que assiste com sua dubiedade a decadencia da nobreza e do clero, sua derrocada pelo bonapartismo e posterior retomada dos Bourbons. Sem deixar de ser o pintor da corte, consegue ao mesmo tempo retratar seu declínio, e posteriormente denuncia a violência revolucionária, sempre com uma postura retratista, meio que distante, colecionando fantasmas e sombras que acabam por deixá-lo surdo. Há um diálogo muito bom entre o pintor e o ex-padre inquisidor que vira bonapartista ( aliás só esta transformação já dá assunto) Lorenzo, sobre o quanto ambos são prostitutos e o quanto acreditam em algo. Há também na construção do personagem feminino principal, uma coisa sempre muito presente nos filmes espanhóis que a posição da maternidade e da prostituição, só que acrescentada da loucura. Há sempre uma subalternidade...Se o filme é bom ? Se você gosta de um bom diretor, bons atores, roteiro criativo, um pouco de artes e história, é claro que é, se não, é melhor ver outra coisa que distraia mais.

domingo, 21 de setembro de 2008

ALEIJADINHO


“Aleijadinho- paixão,glória e suplício” ou “ O Aleijadinho”, é uma produção brasileira de 2001, dirigido por Geraldo dos Santos Pereira. O filme se propõe a contra a estória do artista brasileiro usando a técnica de flash back com a excelente Ruth de Souza fazendo o papel de nora do personagem, que conta sua estória para um historiador.Sentimentos nacionais á parte, é óbvio que o filme não funciona. Este tipo de filme “histórico” que fica no meio do caminho entre literatura e história, entre romance e documentário é muito difícil. Maurício Gonçalves que promete seguir a carreira do pai se esforça em um personagem difícil, mas o problema é que os personagens, mesmo a maravilhosa Maria Ceiça ficam perdidos na caricatura, da qual não escapam os mais experientes Carlos Vereza e Edwin Luisi. É um grande desperdício de grandes talentos, do diretor aos atores, passando pela trilha sonora de Edino Krieger e pelas belas imagens (talvez um dos maiores destaques). Há várias leituras do personagem Aleijadinho, me lembro de ter visto um filme, acho que com o Stenio Garcia fazendo o personagem, em que o aspecto subjetivo do artista é mais transparente, ou seja, explora-se a genialidade do artista como um aspecto de sua “doença misteriosa” que fica entre a loucura e a epilepsia. Neste trabalho de Geraldo Pereira dos Santos o que transparece primeiro é o sofrimento racial do artista, fruto da miscigenação e filho de escrava alforriada e posteriormente alijado da sociedade pela estética deformadora resultado de sua doença, mas o filme é superficial em transpor esta subjetividade para a arte, ou seja, fala-se sempre em características singulares da obra em outros momentos aponta-se para a existência de um “barroco brasileiro”.Embora tais questões artísticas sejam tratadas de forma muito sutil, a não ser por uma citação de Germain Bazin (historiador da arte e grande especialista em barroco) ao final do filme, cabe destacar tais referências como algo bastante positivo no filme.O chamado “estilo barroco” teve características bem diversas em vários lugares do mundo, sendo flagrante as diferenças entre o barroco desenvolvido nos países de colonização espanhola e no Brasil. A intencionalidade da imponência e do fausto em oposição ao “frugalismo” da contra-reforma, o rebuscamento e o “detalhismo” (figurativo ou abstrato) são algumas das importantes características do “ estilo”. A associação entre estas características e o período de exploração intensiva de mão de obra escrava nas minas é algo que poderia ser mais trabalhado pelo filme, pois toda imponência tem um custo, e talvez isto diga algo sobre a impossibilidade de um barroco em sociedades com regime de trabalho livre ou no mundo de salários globalizados, bem como em possíveis exceções em países com excesso gritante de oferta de mão-de-obra.Outro aspecto artístico que o filme levanta de leve é a influência negra na arte barroca brasileira, hoje já objeto de inúmeros estudos, que traceja o nosso barroco e o distingue do barroco em outros países inclusive europeus. A combinação da pedra com a madeira, os tons marrons, e as feições das figuras retratadas, são alguns destes pontos que mereciam um destaque maior. Assim como a religiosidade brasileira sofreu enorme influência da cultura negra, também a arte barroca caminhou passo a passo com esta inter-relação e a Igreja de Santa Efigênia em Ouro Preto talvez seja o símbolo maior de algo que já foi chamado de “ alma brasileira”.

quinta-feira, 18 de setembro de 2008

O CAÇADOR DE PIPAS

O filme " O Caçador de Pipas" ( The Kite Runner- 2007) é uma produção americana, baseada no Best Seller de Kaled Hosseini. Não li este livro, o autor, mas outro, acho que "A estrada para o sol" ( se não me engano) . O que eu li é um bom livro, onde a boa estória serve de pano de fundo para uma viagem pela cultura, pela história e pela sociedade afegã. O filme também é assim, tem uma estória, que a meu ver é fraca, mas o interessante é o pano de fundo sobre a sociedade e a cultura afegã. Os que tentam dar uma qualidade a estória ficam presos a uma pretensa tentativa de "reparação" pelo personagem principal, ao resgatar o filho de seu amigo. Fiz leitura diversa, o personagem principal , totalmente mau- caráter e egoista, só decide ir ao Paquistão pelo amigo do pai e só decide resgatar o menino ao saber da verdade (que não vou contar aqui é claro). Alguém me disse: Ah é criança. Sim, criança mau-caráter. Mas não é issso que importa, o filme vale muito a pena para se conhecer uma outra cultura. Os atores são fracos em sua maioria e a escapada é ridícula, mas nada disso importa muito para que gosta de conhecer outras realidades.

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

SHAFT


Houve tempo em que só havia a hoje chamada TV aberta e haviam muitos seriados de ação com detetives. O mais famoso, Kojak, com Telley Savallas,mas havia muitos outros Columbo,Hawai 5.0 e Shaft, cujo charme era sem dúvida explorar um pouco a questão da negritude, de um certo clima Black is Beautiful ( que risco escrever estas palavras em inglês...) O Filme uma nova filmagem pois houve um na década de 70, é de 2000, é um bom filme de ação, e embora eu não fosse um grande telespectador deste tipo de seriado ( via muito ocasionalmente) até onde me lembro, bastante fiel. Há dois pontos chaves, e o primeiro é a música tema, não há dúvida. Muita gente nem conhece o personagem, mas conhece a música. O segundo ponto é o desempenho bom do Samuel L. Jackson lnge dos personagens estereotipados que as vezes cansam, tem um desempenho que se destaca em seu olhar. Os outros atores também são muito bons, destaque para o Christian Bale, que antes de ser o Homem Morcego já se revelava um bom ator neste filme e no bom "Psicopata Americano" e para o Jeffrey Whright que faz o traficante Peoples. Ah e também o Richard Roundtree que fazia o Shaft na série. e no primeiro filme. O roteiro é padrão, perseguição de carro, muitos tiros, julgamento, mas o bom diretor Jonh Singleton, que também é um dos roteiristas, eque apareceu com o bom filme"Os donos da rua" consegue colocar na ação o racismo e uma certa crítica ao sistema policial-judiciário americano. Vale a pena, principalmente se você gosta de filmes de ação, ainda que previsivéis.

sexta-feira, 12 de setembro de 2008

A FORTUNA DE COOKIE


A Fortuna de Cookie ( 1999) é mais um filme de Robert Altman. Só que é um filme ruim do Robert Altman. As duas únicas coisas boas do filme, são o retrato do cotidiano pasmaceira de uma cidade sulista e a trilha musical. O resto é uma bomba, a começar pelo roteiro, um primor de lugar-comum, suicídio de uma idosa, desavenças familiares, suspeitas, policiais-pescadores, uma conspiração para um filme tipo comédia leve. Mas nem isso o filme consegue, pela desastrosa atuação dos principais intérpretes. Da Glenn Close eu nem vou falar porque tenho certa implicância e acho suas interpretações sempre caricatas, mas a Juliana Moore está horrível, e a Liv Tyler e o Cris O'Donnel não são por assim dizer, destaques pela arte de interpretar. O filme fica no meio do caminho entre o pastelão e uma comédia mais leve de entretenimento tipo vesperal de sábado, mas sem nenhuma qualidade nos desempenhos. A coisa é meio sem pé nem cabeça, e o Robert Altman tem muitos outros filmes melhores.

segunda-feira, 8 de setembro de 2008

KEDMA

"KEDMA" é uma produção de 2002, do aclamado diretor israelense Amos Gitai, de quem só vi um pequeno episódio dirigido por ele no filme coletivo sobre as torres gêmeas e o 11 de setembro e achei bom. O filme em questão é bastante ruim. lento, totalmente voltado para passar ( de forma pouco artística) uma mensagem do diretor sobre questões judaicas e da formação do estado do Israel. Não se trata de concordar ou não com a mensagem ( a maior parte dela é de características subjetivas explicando comportamentos sociais e políticos), mas ela é formalmente muito fraca, ou seja, um personagem que se constroi como uma espécie de consciência alucina e faz um longo discurso ao final tornando o resto do filme quase que uma moldura débil. As idéias do diretor sobre algumas características do povo judeu são interessantes , mas a explicação para o conflito é bastante questionável. O filme é também uma espécie de homenagem ( releitura?) e faz algumas referencias ao premiado "Exodus" (1961) de Preminger, mas precisaria ver de novo para fazer estas relações e não sei se fiquei com vontade, pois o filme é bem fraco. Dizem que o filme bom dele é Kadosh (1999)...Pode ser.....Pelo menos o filme que tem longas e lentas cenas não é muito grande no total.